A escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita, nesta quinta-feira (10), para a cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a integrar a instituição em seus 128 anos de história. Ela obteve 30 votos dos imortais da academia, superando a escritora e ativista indígena Eliane Potiguara, que ficou em segundo lugar.
Natural de Ibiá, em Minas Gerais, Ana Maria Gonçalves é publicitária, roteirista, dramaturga e autora de uma das mais importantes obras da literatura contemporânea brasileira: Um defeito de cor, romance histórico publicado em 2006 que foi amplamente premiado e adaptado como enredo da escola de samba Portela no carnaval de 2024.
A obra narra a trajetória de Kehinde, uma mulher africana capturada no Reino do Daomé aos oito anos de idade e trazida para o Brasil como escravizada. Inspirada na figura de Luísa Mahin, liderança da Revolta dos Malês, a personagem atravessa diferentes momentos da história do Brasil até retornar à África. Em sua passagem pelo Recôncavo Baiano, Kehinde vive na cidade de Cachoeira, marcando com intensidade a presença da ancestralidade africana e a luta negra por liberdade em solo baiano.
“Um Defeito de Cor é a história da luta preta no Brasil incorporada em uma mulher que enfrentou os maiores desafios imagináveis pra continuar viva e preservar suas heranças e raízes”, explicou a autora, antes do desfile da Portela. “A história de uma mãe, heroína, filha de África, que pariu a liberdade dessa nação.”
A eleição de Ana Maria Gonçalves é um marco para a literatura brasileira e reforça a importância de vozes negras na preservação e reinvenção da memória nacional.