Foto: Reprodução
O Recôncavo baiano serviu de inspiração para a nova coleção da marca Meninos Rei, que celebra dez anos de trajetória dos irmãos Céu Rocha e Júnior Rocha. Reconhecida por valorizar a cultura afro-brasileira e o diálogo entre tradição e contemporaneidade, a grife baiana elegeu o conceito de “orgulho do Brasil” como eixo central da coleção.
Segundo os criadores, o objetivo é propor uma reflexão sobre a forma como a moda brasileira se relaciona com suas próprias raízes.
> “O Brasil é constantemente ensinado a admirar o que vem de fora. Mas nosso solo é fértil. A nossa música, a nossa culinária, o nosso artesanato, o nosso jeito de falar, tudo isso é potência. Essa coleção é um gesto de valorização e também de resistência contra a lógica colonial que sempre quis silenciar o que é nosso”, afirma Céu Rocha.
Durante o processo de criação, os estilistas realizaram uma imersão em Maragogipinho, distrito de Aratuípe (BA), conhecido como o maior polo ceramista da América Latina. Lá, conviveram com mestres e mestras do artesanato local, que influenciaram diretamente as peças da nova coleção.
> “Cada olaria trazia lembranças das nossas famílias. O gesto de moldar o barro nos conectou a avós, tias e a toda uma ancestralidade que resiste, mesmo diante do apagamento histórico”, conta Céu.
A proposta da Meninos Rei é fortalecer um olhar para o Brasil profundo como fonte de inovação estética, com uma moda que nasce do que é local, popular e afro-brasileiro, em contraste com a busca por referências externas.
Para Júnior Rocha, esse movimento também é político.
> “Sempre nos inspiramos no Recôncavo — nas festas, nas irmandades, no samba, no Nego Fugido. O que fazemos não é apenas roupa, é uma forma de manter viva a memória de manifestações que resistem há séculos. Ao mesmo tempo, queremos que essa estética dialogue com a juventude, com as redes sociais e com a vida urbana”, explica.
Nascidos no subúrbio ferroviário de Salvador, os irmãos trazem em suas criações não apenas cores e estampas, mas também narrativas sobre acesso, representatividade e identidade negra.
> “Ocupar espaços de moda não pode ser um ato ingênuo. Sempre que levamos a Meninos Rei para uma passarela, levamos junto a Bahia, a fé, a periferia, a negritude. Nossa presença é um discurso”, destaca Júnior.
Essa dimensão social é, segundo eles, parte indissociável do trabalho da marca.
> “Quando jovens da periferia veem nossa caminhada e pensam ‘se eles chegaram, eu também posso’, sentimos que cumprimos parte da missão. A periferia é ouro, só precisa de oportunidade para brilhar”, completa Céu.
Via: Notícia Preta
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Cultura
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